sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Mais de 80% dos indígenas da América Latina vivem na pobreza, diz estudo

Bruno Garcez
De Washington                

"Onde quer que vivam, indígenas tendem 
a ser pobres", diz relatório. 
Foto: Internet.               
Um estudo divulgado pelo Banco Mundial afirma que, apesar dos esforços para reduzir a pobreza na América Latina, mais de 80% dos indígenas latino-americanos vivem na pobreza extrema, uma tendência que pouco mudou desde a década de 1990, quando foram registrados diversos progressos econômicos.

O estudo analisa a situação vivida em cinco países latino-americanos: Bolívia, Peru, México, Guatemala e Equador. O relatório afirma que ''onde quer que vivam, os indígenas tendem a ser os mais pobres entre os pobres''.
O documento discute por que, mesmo hoje em dia tendo mais acesso a uma melhor educação e a treinamento profissional, os cerca de 28 milhões de indígenas latino-americanos não conseguem aprimorar seus padrões de vida ou equipará-los aos das populações não-indígenas de seus países.
De acordo com Emmanuel Skoufias, economista-sênior no Banco Mundial e um dos autores do relatório, o estudo mostra que ''devido à sua exclusão histórica, os povos indígenas continuam a ter acesso limitado a terras produtivas, serviços básicos e a mercados financeiros''.

Relações desiguais
No meio rural, os indígenas costumam ser afetados pela escassez de recursos como água corrente e eletricidade, mas também pelo acesso a estradas, que é vital para que eles possam transportar seus produtos para o mercado.
Mas o documento afirma que as relações desiguais entre indígenas e não-indígenas se dão tanto nos grandes centros urbanos como no meio rural.
O estudo afirma que, no meio rural, os indígenas são mais dependentes da agricultura como meio de subsistência e têm poucas oportunidades de obter empregos que não sejam os destinados à mão de obra não qualificada.
Em relação aos meios urbanos, ''os trabalhadores indígenas estão mais propensos a trabalhar no setor informal, que padece da falta de segurança, acesso a benefícios sociais, seguro saúde e seguro desemprego''.
Segundo o relatório, na Guatemala, menos de 50% da população indígena que vive nas áreas urbanas do país é assalariada, contra 65% dos não-indígenas. No Equador, apenas 28% de todos os indígenas do país têm empregos formais, contra 50% do restante da população do país.

Diferenças culturais
O documento também lista motivos culturais como fatores que contribuem para a situação. ''Os indígenas tradicionais do continente americano se vêem antes de tudo como membros de suas comunidades. Essa característica pode ter um efeito negativo sobre se sentirem parte integrante da força de trabalho e sobre salários.''
O relatório cita o caso dos aimará, grupo indígena formado por mais de 2 milhões de pessoas na região andina, em países como a Bolívia e o Peru. Segundo o texto, ''os aimará valorizam muito a educação, que se afina com seus ideais de individualismo, trabalho duro e desenvolvimento pessoal e comunal''.
Mas o documento acrescenta que, apesar de louvarem as benesses oferecidas pela educação moderna, a cultura aimará não assimila bem outras características da cultura moderna, enfatizando que ''a competição aberta está ausente da cultura aimará''.
Mas o estudo conclui que valores tradicionais também estão entre as forças das comunidades indígenas. ''Antes de estas comunidades haverem travado contato com os europeus, entre as suas características estava o empreendimento, que foi esmagada por imigrantes europeus''.
O documento acrescenta, que quando esta tendência foi recuperada, ''ela estava mais voltada para a comunidade do que para o indivíduo''.
O estudo diz que, apesar de constituírem menos de 5% da população mundial (370 milhões de pessoas), as populações indígenas em todo o mundo constituem 15% dos pobres mundiais.

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