Por PNUD
A principal ameaça ao progresso na região é a recaída de milhões de famílias na pobreza, ainda que a desaceleração econômica não seja a única responsável por tal retrocesso, segundo o Relatório de Desenvolvimento humano (RDH) para América Latina e Caribe do PNUD. O relatório sustenta recomendações para que a região impeça retrocessos e continue avançando nos aspectos social, econômico e ambiental, com políticas públicas de nova geração, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
FOTO: TIAGO ZENERO. PNUD BRASIL. |
O relatório destaca que o os fatores que determinam a saída da pobreza são diferentes dos que previnem que as e os latino-americanos voltem a recair. Na década passada, o mercado de trabalho e a educação foram dois grandes motores para deixar a pobreza. No entanto, é fundamental que as políticas públicas de nova geração fortaleçam os quatro fatores que impedem retrocessos: proteção social, sistemas de cuidado, ativos físicos e financeiros (como carro, casa própria, conta de poupança ou dinheiro em banco que atuam como “para-choques” ou amortecedores durante as crises), e qualificação profissional. Esses elementos-chave compõem o que o RDH denomina cestas de ‘resiliência’, que é a capacidade de absorver choques e prevenir retrocessos, fundamental para a região neste momento de desaceleração econômica.
O RDH faz um chamado para repensar o modelo
latino-americano de progresso para um conceito multidimensional, em
concordância com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e que possa
transcender o uso de renda per capita, o ritmo do crescimento econômico e o
Produto Interno Bruto (PIB) como critérios privilegiados para medir o nível de
desenvolvimento. Só o crescimento econômico não é suficiente. Nada que diminua
os direitos das pessoas e das comunidades ou que ameace a sustentabilidade ambiental
pode ser considerado progresso, destaca o relatório.
“Os desafios de um desenvolvimento sustentável,
holístico e universal não expiram ao alcançar um determinado limiar de renda:
não superaremos os desafios de desenvolvimento a menos que demos respostas
apropriadas à múltiplas dimensões que permitem às pessoas terem vidas que
considerem valiosas”, disse a Subsecretária-Geral das Nações Unidas e Diretora
Regional do PNUD para a América Latina e o Caribe, Jéssica Faieta no lançamento
junto ao Presidente Juan Carlos Varela do Panamá. “Neste momento, por um lado
temos que proteger os avanços e prevenir que milhões de pessoas voltem a cair
na pobreza e por outro lado temos que estimular políticas e estratégias
inclusivas e integrais adaptadas a populações que sofrem de discriminações e
exclusões históricas”.
Mais do mesmo não rende o mesmo – Ainda que, na
região, tenham saído da pobreza cerca de 72 milhões de pessoas e tenham entrado
na classe média 94 milhões de pessoas entre 2003 e 2013, os últimos três anos
viram uma desaceleração e depois uma reversão dessa tendência. Segundo o RDH, a
média anual de latino-americanos que saíram da pobreza foi de quase 8 milhões
entre 2003-2008 e de 5 milhões entre 2009-2014. Entre 2015 e 2016, aumentou o
número absoluto de pessoas pobres, pela primeira vez na década.
Isso acontece pelos limites da expansão laboral e
fiscal na região. O mercado de trabalho na América Latina, na maior parte é
informal, segundo o RDH. Mais da metade dos 300 milhões de trabalhadores na região
são: assalariados em microempresas com menos de cinco vagas de trabalho,
autônomos sem qualificação ou aqueles que não recebem renda (programas de
aprendizagem, por exemplo). De igual forma, das mais de 50 milhões de empresas
pequenas e médias, 70% são informais, e dois a cada três novos empregos criados
na região foram no setor de serviços, que tem baixa produtividade e altas taxas
de informalidade. Sem aumentos futuros da produtividade dos setores de baixa
qualificação profissional, a sustentabilidade do crescimento e, em
consequência, das conquistas sociais, acabam sendo comprometidos, aponta o RDH.
Além disso, a expansão de transferências sociais e
pensões não contributivas, que explicam cerca de 30% da redução da desigualdade
de renda desde 2002, também encontra um teto fiscal. Igualmente, o relatório
destaca que o peso da carga tributária nos pobres é tão alto na região que
costuma anular o benefício recebido por programas de transferência de renda.
Dessa forma, o RDH ressalta que melhorar a efetividade e progressividade do
sistema fiscal no seu conjunto é um desafio urgente para a região.
Investir nas mulheres e em políticas de cuidado é
fundamental para que a região possa avançar, diz o relatório. Ainda que a
proporção de mulheres com nível universitário na região tenha sido mais alta
(17,3%) que a correspondente proporção de homens (14,8%), em 2013, a média
salarial por hora das mulheres era 16,4% menor que a dos homens. Além disso, as
mulheres dedicam três vezes mais tempo em trabalhos de cuidado e deveres
domésticos que os homens. As tendências demográficas e a ausência de mecanismos
de cuidado (especialmente para crianças e adultos mais velhos), combinadas com
o aumento da participação laboral feminina, restringem uma melhor inserção da
mulher no mercado de trabalho e a geração de renda nos lares, destacou o
relatório.
“Ser mulher, afrodescendente, indígena, LGBTI, jovem,
pessoa com deficiência, tudo isso afeta as oportunidades, a possibilidade de
ascensão social e econômica e o acesso a serviços públicos na região”, disse o
principal autor do relatório e economista chefe do PNUD para a América Latina e
o Caribe, George Gray Molina. “Cada geração latino-americana decide o tipo de
mudança estrutural que vai seguir: restam ainda hoje transações de cidadania e
de resiliência que não vão ser resolvidas com mais crescimento econômico”.
Fonte: PNUD.
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