Bruno Garcez
De Washington
Um estudo divulgado pelo Banco Mundial afirma que,
apesar dos esforços para reduzir a pobreza na América Latina, mais de 80% dos
indígenas latino-americanos vivem na pobreza extrema, uma tendência que pouco
mudou desde a década de 1990, quando foram registrados diversos progressos
econômicos.
O estudo analisa a situação vivida em cinco países
latino-americanos: Bolívia, Peru, México, Guatemala e Equador. O relatório
afirma que ''onde quer que vivam, os indígenas tendem a ser os mais pobres
entre os pobres''.
O documento discute por que, mesmo hoje em dia tendo mais
acesso a uma melhor educação e a treinamento profissional, os cerca de 28
milhões de indígenas latino-americanos não conseguem aprimorar seus padrões de
vida ou equipará-los aos das populações não-indígenas de seus países.
De acordo com Emmanuel Skoufias, economista-sênior no Banco
Mundial e um dos autores do relatório, o estudo mostra que ''devido à sua
exclusão histórica, os povos indígenas continuam a ter acesso limitado a terras
produtivas, serviços básicos e a mercados financeiros''.
Relações desiguais
No meio rural, os indígenas costumam ser afetados pela
escassez de recursos como água corrente e eletricidade, mas também pelo acesso
a estradas, que é vital para que eles possam transportar seus produtos para o
mercado.
Mas o documento afirma que as relações desiguais entre
indígenas e não-indígenas se dão tanto nos grandes centros urbanos como no meio
rural.
O estudo afirma que, no meio rural, os indígenas são mais
dependentes da agricultura como meio de subsistência e têm poucas oportunidades
de obter empregos que não sejam os destinados à mão de obra não qualificada.
Em relação aos meios urbanos, ''os trabalhadores indígenas
estão mais propensos a trabalhar no setor informal, que padece da falta de
segurança, acesso a benefícios sociais, seguro saúde e seguro desemprego''.
Segundo o relatório, na Guatemala, menos de 50% da população
indígena que vive nas áreas urbanas do país é assalariada, contra 65% dos
não-indígenas. No Equador, apenas 28% de todos os indígenas do país têm
empregos formais, contra 50% do restante da população do país.
Diferenças culturais
O documento também lista motivos culturais como fatores que
contribuem para a situação. ''Os indígenas tradicionais do continente americano
se vêem antes de tudo como membros de suas comunidades. Essa característica
pode ter um efeito negativo sobre se sentirem parte integrante da força de
trabalho e sobre salários.''
O relatório cita o caso dos aimará, grupo indígena formado
por mais de 2 milhões de pessoas na região andina, em países como a Bolívia e o
Peru. Segundo o texto, ''os aimará valorizam muito a educação, que se afina com
seus ideais de individualismo, trabalho duro e desenvolvimento pessoal e
comunal''.
Mas o documento acrescenta que, apesar de louvarem as
benesses oferecidas pela educação moderna, a cultura aimará não assimila bem
outras características da cultura moderna, enfatizando que ''a competição
aberta está ausente da cultura aimará''.
Mas o estudo conclui que valores tradicionais também estão
entre as forças das comunidades indígenas. ''Antes de estas comunidades haverem
travado contato com os europeus, entre as suas características estava o
empreendimento, que foi esmagada por imigrantes europeus''.
O documento acrescenta, que quando esta tendência foi
recuperada, ''ela estava mais voltada para a comunidade do que para o
indivíduo''.
O estudo diz que, apesar de constituírem menos de 5% da
população mundial (370 milhões de pessoas), as populações indígenas em todo o
mundo constituem 15% dos pobres mundiais.
Fonte: BBC Brasil.
Saiba mais:
2007: Indigenous Peoples in Latin America: Economic Opportunities and Social Networks
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