Tuberculose é doença infecciosa mais mortal do mundo,
o documento de MSF e da Stop Tb Partnership analisa políticas para a doença em
29 países, incluindo o Brasil.
Por MSF (adaptado)
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Foto: Giorgos Moutafis - MSF. |
A organização médico-humanitária internacional
Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a Stop TB Partnership divulgaram a terceira
edição de “Out of Step” (Descompasso, em tradução livre), um relatório que
ressalta a necessidade de os governos aumentarem seus esforços de combate à
tuberculose.
O relatório examina as políticas e práticas para a
tuberculose em 29 países – que correspondem a 82% da carga global da doença,
segundo classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) – e mostra o que os
países podem fazer mais para prevenir, diagnosticar e tratar pessoas afetadas
pela tuberculose.
Apesar de a tuberculose ser evitável e tratável, ela
continua sendo a doença infeciosa mais mortal do mundo. Apenas em 2015, 1,8
milhão de pessoas morreram de tuberculose. Em 2015, 54% das 10,4 milhões de
pessoas com tuberculose viviam em países representados no G20. Apesar disso, a
maioria dos países está atrasada na implementação das novas ferramentas
disponíveis para enfrentar a tuberculose.
“A tuberculose mata há muito tempo, mas temos o
conhecimento e as ferramentas para enfrentar essa doença; muitos países não
estão fazendo uso desses avanços, e as pessoas estão morrendo por isso”, disse
Lucica Ditiu, diretora executiva da Stop TB Partnership.
A lacuna no diagnóstico continua enorme. Dos 29
países analisados, apenas 7 tornaram amplamente disponível o Xpert MTB/RIF – um
teste molecular rápido para diagnosticar a tuberculose e testar a resistência
aos medicamentos de primeira linha contra a doença. Isso significa que a
maioria das pessoas nos 29 países ainda é examinada com um método que não
detecta muitos casos, ou que exige uma esperar de vários meses para confirmar a
doença. Essa lacuna explica por que tanta gente continua sem diagnóstico e
tratamento; em 2015, com base na diferença entre a incidência estimada de tuberculose
e os casos notificados, estimou-se que 4,3 milhões de pessoas com a doença
nunca foram diagnosticadas.
“Como se espera que as pessoas sejam tratadas se elas
nem sequer conseguem ser diagnosticadas?”, perguntou o dr. Issac Chikwanha,
assessor médico para HIV e tuberculose da Campanha de Acesso a Medicamentos de
MSF. “Se os países não fizerem mais para garantir que as pessoas tenham acesso
a exames, será impossível reduzir as mortes evitáveis por tuberculose.”
Houve progresso na direção de fazer com que as
pessoas com tuberculose tenham acesso a novos tratamentos que são mais eficazes
e mais fáceis de suportar.
A hospitalização por períodos extensos pode limitar a
capacidade da pessoa de ter uma vida normal e deve ser reservada somente para
os pacientes com tuberculose resistente em estado mais grave. O relatório
mostrou que 34% dos países pesquisados ainda exigem longas internações para o
tratamento da tuberculose resistente. Novos medicamentos para o tratamento da
tuberculose resistente tiveram resultados melhores do que os atuais regimes de
tratamento, que oferecem índices de cura de apenas 28% no caso da tuberculose
ultrarresistente e de 52% no caso da tuberculose multirresistente. Dos países
analisados, 79% incluíram a nova droga bedaquilina nos seus protocolos
nacionais, e 62% incluíram a delamanida; globalmente, entretanto, apenas 5% das
pessoas que poderiam ter se beneficiado desses medicamentos tiveram acesso a
eles em 2016.
O tratamento da tuberculose resistente, que em alguns
casos exige que o paciente tome 15 mil comprimidos num período de dois anos,
pode ser reduzido agora para nove meses. Tratamentos mais curtos ajudam as
pessoas a retomarem sua vida normal mais rápido. Porém, apenas 13, ou 45%, dos
29 países analisados tornaram disponíveis os tratamentos mais curtos.
“O relógio está correndo rápido, porque a cada 18
segundos uma pessoa morre de tuberculose. Temos que mudar isso”, disse
Sharonann Lynch, assessora de políticas para HIV e tuberculose da Campanha de
Acesso. “O número de pessoas diagnosticadas nos últimos quatro anos estagnou,
enquanto o número de mortes aumentou em vez de diminuir. Os países precisam
usar ferramentas novas para aumentar o ritmo de sua resposta.”
DESTAQUES DO RELATÓRIO “OUT OF STEP” (DESCOMPASSO)
A doença infecciosa mais mortal do mundo deve
finalmente ter a atenção que necessita
• Ainda que
a tuberculose seja evitável e tratável, é a doença infecciosa mais mortal do
mundo. Em 2015, 1,8 milhão de pessoas morreram da doença.
• Muitos
países estão atrasados no combate à doença, no que diz respeito à introdução de
ferramentas modernas de tratamento e à implementação das políticas
internacionalmente recomendadas.
• Pela
primeira vez, a saúde global está incluída na agenda da cúpula do G20, que
acontecerá nos dias 7 e 8 de julho em Hamburgo. A Declaração dos Ministros da
Saúde feita durante a preparação da cúpula reconheceu que a tuberculose deve
estar no centro dos esforços contra as infecções resistentes a medicamentos.
O que é o relatório Out of Step
• É um
levantamento sobre políticas de prevenção, diagnóstico e tratamento da
tuberculose em 29 países , que representam 82% da carga global de tuberculose,
como definida pela OMS (uma combinação do número absoluto de casos e do número
de casos proporcional à população).
• Os
relatórios Out of Step foram criados para identificar lacunas e monitorar o
progresso na adoção de padrões internacionais para as políticas e práticas
nacionais de tuberculose.
• A primeira
edição, publicada em 2014, monitorou oito países; a segunda, publicada em 2015,
cobriu 24 países.
• A edição
de 2017 do Out of Step cobre cinco áreas essenciais: diagnóstico, modelos de
cuidados, tratamento para tuberculose e tuberculose resistente a medicamentos,
regulação medicamentosa e prevenção.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES
40% das pessoas que vivem com tuberculose não são
diagnosticadas ou tratadas
• A lacuna
nos diagnósticos é maciça: em 2015, mais de 4 milhões de pessoas viviam com
tuberculose não diagnosticada.
• 15
(52%) dos países analisados no relatório
introduziram o Xpert MTB/RIF, um exame molecular rápido que pode detectar a
forma resistente da doença, como teste inicial para diagnóstico da tuberculose;
porém, apenas 7 desses países aplicam
esse exame de forma ampla.
Países estão demorando a introduzir novos tratamentos
para tuberculose
• Apenas
quatro países analisados introduziram,
de forma ampla, medicamentos pediátricos em doses fixas combinadas, que são
mais fáceis de serem usados e ministrados a crianças.
• Em certas
condições e para as pessoas elegíveis, a duração dos tratamentos de tuberculose
multirresistente pode ser reduzida para nove meses. Apenas 13 países (45%) do
relatório recomendam esses tratamentos em seus protocolos; nenhum deles
disponibilizou o tratamento amplamente.
• 79% (23) dos
países analisados no relatório incluíram o medicamento mais novo, a
bedaquilina, em seus protocolos nacionais, e 62% (18) dos países incluíram a delamanida.
•
Globalmente, apenas 5% das pessoas que vivem com tuberculose resistente
têm acesso a regimes de tratamento que incluem os novos medicamentos.
Aproximar as pessoas do tratamento: um longo caminho
a percorrer
• Mais de
80% dos países (24) analisados no relatório recomendam que pacientes com
tuberculose sensível a medicamentos comecem o tratamento próximo a suas casas,
na rede de cuidados primários de saúde; 20 desses países implementaram essa
política amplamente.
• 19 dos
países incluíram em suas políticas nacionais o início do tratamento da
tuberculose resistente em nível distrital, mas apenas 11 desses países implementaram essa recomendação
de forma ampla.
Sobre os responsáveis pelo relatório
• MSF vem
tratando pessoas com tuberculose há cerca de 30 anos, e mantém projetos de
tratamento em 24 países. Em 2016, MSF apoiou mais de 20 mil pacientes com
tuberculose, incluindo 2.700 pacientes com formas resistentes a medicamentos.
MSF é uma das organizações não governamentais que mais oferece tratamentos
contra a tuberculose resistente.
• A Stop TB
Partnership foi fundada em 2001 e conta com uma rede de mais de 1.600
parceiros. Seus programas incluem o Global Drug Facility (Estrutura Global de
Medicamentos), que oferece medicamentos e diagnósticos de tuberculose
certificados, acessíveis e de qualidade para diversos países do mundo, e o TB
Reach, que já ajudou a diagnosticar mais de 2 milhões de pessoas com
tuberculose. A Stop TB Partnership opera por meio de um secretariado hospedado
pelo Unops (Escritório das Nações Unidas para Serviços e Projetos) em Genebra,
na Suíça, e é governada por um conselho de coordenação que define orientações
estratégicas para a luta global contra a tuberculose.