Organização
divulga relatório de pesquisa realizada em oito países na 45ª Conferência
Mundial de Saúde Pulmonar
Foto: MSF. |
Políticas e práticas obsoletas, além de graves
lacunas nos cuidados voltados para a tuberculose resistente a medicamentos
(TB-DR) estão fomentando uma crise global de saúde pública, de acordo com a
organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) em seu novo
relatório “Out of Step” (“Descompasso”, em tradução livre para o português),
divulgado hoje na 45ª Conferência Mundial de Saúde Pulmonar. Baseado em uma
pesquisa realizada em oito países com alta prevalência de TB, o estudo de MSF
revela que os esforços para controlar a epidemia andam em perigoso descompasso
com as recomendações internacionais e as melhores práticas, permitindo, assim,
que as cepas de TB resistente se espalhem. Para a organização, governos
doadores e a indústria devem agir imediatamente, utilizando-se de todos os
recursos disponíveis para ampliar a resposta à crise ou a resistência
apresentará crescimento maior ainda.
“Não é hora para complacência: no norte do
Uzbequistão, por exemplo, MSF diagnostica a tuberculose multirresistente
(TB-MDR) em até 40% dos pacientes que nunca haviam recebido tratamento para TB.
Em Mumbai, na Índia, MSF observa que é possível que a transmissão primária das
cepas da doença resistentes a medicamentos esteja direcionando a epidemia para
focos como favelas e grupos vulneráveis, como pessoas vivendo com HIV”, diz o
Dr. Petros Isaakidis, médico epidemiologista operacional e de pesquisa de MSF
na Índia. “A TB-DR é um desastre produzido pelas mãos dos homens, gerado por
anos de negligência e conduzido por uma resposta lenta e fragmentada. Os países
precisam intensificar seus esforços para otimizar os cuidados para TB-DR, de
forma que estejam alinhados às diretrizes internacionais e que se possa
aproveitar novas ferramentas para fortalecer e acelerar o combate à TB.”
Os últimos dados divulgados pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) demonstram que menos de um terço dos pacientes com TB-MDR foram
diagnosticados, e apenas um em cada cinco recebem tratamento adequado. As
lacunas na oferta de cuidados impulsionam a transmissão da TB-DR de pessoa para
pessoa. Em alguns países, a TB-MDR é diagnosticada em até 35% dos novos
pacientes com TB, uma tendência observada nas clínicas de MSF.
O relatório “Out of Step” revela cinco lacunas fatais
na resposta à TB que estão custando vidas: o difícil acesso a testes de
resistência a medicamentos, um número crescente de pessoas diagnosticadas com
TB-DR mas que estão sem tratamento, o uso continuado de modelos de cuidados
ultrapassados e custosos, o acesso limitado a novos medicamentos e a terrível
escassez de financiamento.
A pesquisa de MSF demonstrou que os testes para a
resistência a medicamentos, cruciais para prevenir diagnósticos e tratamentos
incorretos, são extremamente insuficientes na maioria dos países estudados. Na
metade deles, menos de 75% dos pacientes diagnosticados com TB-MDR estão em
tratamento. Além disso, alguma forma de hospitalização de rotina acontece em
metade dos países, apesar de o modelo de oferta de cuidados baseado na
comunidade ter se provado mais tolerável para os pacientes e mais efetivo em
termos de custos, e entrega resultados médicos similares. Cinco em cada oito
programas nacionais de TB enfrentam lacunas críticas em termos de financiamento
– Quênia, Mianmar e Zimbábue, por exemplo, têm acesso a menos de 50% do
montante requerido.
Medicamentos novos e promissores para TB-DR
permanecem inacessíveis para a maioria dos pacientes, mais de um ano após sua
introdução no mercado – a bedaquilina e o delamanid ainda não estão disponíveis
para uso de rotina em todos os países pesquisados. Em quatro dos países
estudados, os novos medicamentos estão disponíveis para poucos por meio do uso
compassivo ou programas equivalentes. Nenhum dos países dispõe de todos os
medicamentos listados em suas diretrizes nacionais – medicamentos que são
fundamentais nas terapias de salvamento.
“Os pacientes estão sendo excluídos de usufruir do
potencial dos novos e promissores tratamentos porque as companhias e os países
estão protelando os registros. Enquanto isso, a escassez de testes clínicos que
incorporam os novos medicamentos de TB em regimes de tratamento mais curtos,
toleráveis e efetivos destaca o fracasso da forma como a inovação médica é
conduzida e incentivada. É hora de priorizar e financiar pesquisa e
desenvolvimento voltados para TB de forma a garantir que o diagnóstico e
tratamento essenciais cheguem rapidamente às pessoas que tão desesperadamente
precisam deles”, afirma Grania Brigden, especialista em TB da Campanha de
Acesso a Medicamentos de MSF.
“Out of Step”
O novo relatório de MSF, “Out of Step: Deadly
implementation gaps in the TB response” (“Descompasso: a implementação de
lacunas fatais na resposta à TB”, em tradução livre para o português) é baseado
em uma revisão essencial dos indicadores-chave para diagnóstico, tratamento e
acessibilidade aos principais medicamentos, financiamento e aquisição de
medicamentos, e é complementado com a experiência de MSF. Os oito países
pesquisados representam uma ampla gama de perfis demográficos, geográficos,
econômicos e epidemiológicos: Brasil, Índia, Quênia, Mianmar, Federação Russa,
África do Sul, Uzbequistão e Zimbábue.
MSF e a
tuberculose
MSF está envolvida com os cuidados voltados para a
tuberculose (TB) há 30 anos, tendo trabalhado, frequentemente, em colaboração
com autoridades de saúde nacionais para tratar pacientes em uma grande
variedade de contextos, incluindo zonas de conflito, favelas urbanas, prisões,
campos de refugiados e áreas rurais. Os primeiros programas de MSF para tratar
a TB multirresistente foram inaugurados em 1999 e a organização é, atualmente,
uma das maiores ONGs provedoras de tratamento para TB resistente a medicamentos.
Em 2013, a organização tratou 29.900 pacientes com TB em todo o mundo,
incluindo 1.950 pacientes com TB-DR.
Campanha de
Acesso a Medicamentos de MSF
Em 1999, no momento em que MSF recebia o prêmio Nobel
da Paz – e muito em resposta às desigualdades no acesso ao tratamento para
HIV/Aids entre países pobres e ricos –, MSF lançou a Campanha de Acesso. Seu
principal propósito tem sido pressionar pelo acesso e pelo desenvolvimento de
medicamentos vitais e que prolongam a vida, diagnósticos e vacinas para pacientes
nos programas de MSF e além.
Fonte: Médicos Sem Fronteiras.
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